A mulher foi abatida na ambulância à entrada do posto da GNR
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Um ano e meio após ter morto a mulher a tiros de caçadeira - dentro de uma ambulância - e um soldado da GNR, com um disparo de pistola, já no interior do posto da guarda, Mário Pessoa voltou ontem ao local do crime. Na reconstituição, pedida pela defesa, o colectivo de juízes quis perceber todas as movimentações realizadas na manhã de 29 de Novembro de 2009, à entrada e dentro do posto da GNR de Montemor-o-Velho.
Mário Pessoa, 43 anos, não participou na encenação feita no exterior – só os bombeiros foram ouvidos – mas explicou os seus actos no interior do posto.
Correio da manhã/pt
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"Os juízes quiseram ver e saber como ele matou a mulher. Todos os gestos que fez e o que nos disse naquele dia. Ele abriu a porta da ambulância, entrou lá para dentro com a arma e disparou contra a mulher. A nós, bombeiros, nesse dia só nos disse para estarmos calados", referiu Luís Guerra, um dos ‘soldados da paz’ chamados a prestar declarações, por ter assistido à morte de Maria Manuela Costa, de 35 anos.
Com a observação atenta dos três juízes que julgam o caso, do procurador e dos advogados, os dois bombeiros e alguns dos polícias envolvidos explicaram o que presenciaram em 2009.
Todas as movimentações foram repetidas, inclusivamente com o auxílio de uma arma - que serviu como réplica da caçadeira usada por Mário Pessoa para desferir os disparos fatais sobre a mulher.
O arguido, que na altura foi levado pelos polícias sem as algemas colocadas e sem revista prévia - só lhe tiraram a caçadeira -, diz não ser o autor dos tiros, feitos com uma pistola que trazia, que vitimaram o guarda David Dias, de 42 anos, e feriram o guarda Adérito Teixeira, na altura com 36 anos. Mário Pessoa afirmou em tribunal que os disparos que atingiram os militares foram acidentais. "A dúvida do processo está em ele dizer que não matou o GNR", explicaram os bombeiros envolvidos.
Os advogados não quiseram avançar com as razões que levaram à reconstituição do duplo homicídio. "Foi por causa do posicionamento das pessoas na cena do crime", afirmou um dos causídicos. Mário Pessoa, já sujeito a vários exames psiquiátricos, foi transportado numa carrinha celular para o posto da GNR e não foi visto pelos populares que estavam no exterior.
MATOU À FRENTE DA FILHA
Na madrugada de 29 de Novembro de 2009, Mário Pessoa fechou o seu bar, na Carapinheira, Montemor-o-Velho, e não foi para casa. Não vivia com a mulher, mas deslocou-se à habitação que pertencera aos sogros, em Porto Luzio, onde Maria Manuela Costa e os dois filhos dormiam. Afirmou em tribunal que pretendia descansar e que a vítima "sentou-se em cima" dele e tentou manter relações sexuais, magoando-o. Mário garantiu não a ter agredido. Maria foi apresentar queixa por violência doméstica e deslocava-se ao hospital de ambulância para ser assistida. O arguido afirma que naquele dia carregou a arma, para se matar "à frente dela", mas, ao chegar à porta do posto da GNR, depois de perseguir a ambulância, não hesitou e apontou-a à mulher, que tinha a filha de seis anos ao colo. Manuela Costa afastou a criança, mas esta ainda foi atingida.