Maria Bethânia sempre inspira devoção em seus ouvintes. Não à toa, é um dos sentimentos invocados no nome do show que ela apresentará em Natal sexta e sábado, no Teatro Riachuelo: "Amor, Festa, Devoção" não é o espetáculo mais novo da cantora, mas é a marca de sua volta à capital potiguar após 10 anos sem soltar a voz por aqui. Não que isso seja um problema para os fãs mais abnegados, que seguem a agenda da artista e vão aonde ela está. Mas agora, para os natalenses em geral, Bethânia está perto de casa, pronta para mostrar porque ainda é popular, a segunda mulher em vendagem de discos no Brasil, com 26 milhões de cópias. A "Abelha Rainha" continua reinando.
Show é dedicado a Dona Canô
"Amor, Festa, Devoção" é um show dedicado a Dona Canô, mãe de Bethânia e eterna musa inspiradora da família Veloso. A apresentação tem como base os dois álbuns que a cantora lançou em 2009, "Tua", uma coleção de músicas essencialmente românticas, e o festeiro e místico "Encanteria". Cada disco ao seu modo, faz a coleção de sentimentos que ela interpreta no palco e exibe à plateia. Além das canções inéditas desses discos, o show também traz músicas de Chico Buarque, Caetano Veloso, e de outros compositores que ela acompanha desde os anos 60.
A direção e o cenário são de Bia Lessa, com roteiro da própria Maria Bethânia. No palco ela vem acompanhada de uma banda mais enxuta, sob a regência de seu maestro Jaime Alem, num jogo de sons e acordes que privilegia a voz da cantora. O cenário conta com poucos elementos, fazendo referências a cidades do interior bem como aos asfaltos luminosos. O chão está salpicado de rosas vermelhas, mantos floridos e iluminados por luzes piscantes, tábuas envelhecidas, e fotos emolduradas de casas do interior nordestino, criam o ambiente quase religioso que a cantora baiana instaura no palco.
"Bethânia está em estado de graça"
A poeta Marize Castro não se define como uma "devota" de Bethânia; antes, uma admiradora. Ela já viu "Amor, Festa, Devoção" ano passado em Recife, e verá de novo neste sábado. "É um show belíssimo. Bethânia está em estado de graça. O amor que ela tem pela mãe, e demonstra isso no palco, é de arrepiar", afirma. Para ela, o nome do show já é uma síntese da carreira de Bethânia, "há todos os elementos que nortearam a trajetória dela". Marize afirma que o momento que mais a emocionou foi a da canção "Balada de Gisberta", letra sobre uma transexual morta no Porto, em Portugal. "Apesar de tudo é um show muito pra cima, repleto de climas e variações", completa.
Marize confessa que, no começo, sua identificação maior era com Gal Costa e Caetano Veloso, os primeiros ídolos tropicalistas. "Passei a gostar mais de Bethânia na minha maturidade. Não só pela sua força poética, mas também pela sua verdade. É uma das artistas mais verdadeiras da nossa música", afirma. A poeta admira o fato de Bethânia não ter amarras, e só fazer o que quer. Até suas concessões ao mercado é por pura vontade, como na gravação das populares canções sertanejas. No show há citações de "É o amor" e "Vai dar namoro". "A trajetória dela é muito íntegra. Os artistas de hoje precisam de exemplos como esse", enfatiza.
O compositor Mirabô Dantas afirma que prefere Maria Bethânia cantando mais do que declamando. "O que eu mais gosto nela é a dramaticidade da interpretação, mas quando é aplicada à música. É assim que ela prova ser a maior de nossas intérpretes", explica ele, que tem como seu disco favorito o "Drama", de 1972. Mirabô nunca viu Bethânia ao vivo, e pretende aproveitar essa chance. O músico também não tocou nada dela, prefere suas composições, mas é amigo de outro compositor que Bethânia adora, Capinan. "Ela já gravou coisas lindas dele, como 'Candeia'. Ela canta com a alma, e por isso está sempre no topo", conclui.
Edi Elias: a fã número 1 já viu o mesmo show oito vezes
"É um show alegre e brincalhão, como a própria Dona Canô. Tudo que ela faz vira festa. Tenho certeza que já estão pensando na celebração de 104 anos que irão fazer para ela este ano", afirma médica oftalmologista Maria Edi Elias, provavelmente, a maior fã de Maria Bethânia no estado. Edi já pôde ver "Amor, Festa, Devoção" na ocasião de seu lançamento, em Salvador, com a presença de Canô. Pelas suas contas, já viu o show cerca de nove vezes. E verá de novo, sexta e sábado, no Teatro Riachuelo. Edi não é apenas fã; também é amiga da poeta Mabel Veloso, irmã da cantora. É praticamente de casa.
Edi já viu shows de Bethânia em várias partes do Brasil. É diretamente informada pelos fã-clubes "Grito de Alerta" (de Recife) e o "Rosa dos Ventos" (de Salvador), e faz o possível - e impossível - para conciliar sua agenda pessoal de médica com a da cantora. "Eu compro os ingressos antecipadamente, mais de um para ir todos os dias. Muitas vezes pensam que sou cambista. Tenho que explicar que todas as senhas são para mim", diverte-se. A presença é obrigatória sempre que a baiana lança um show novo - seja aonde for.
Toda a obra de Maria Bethânia, em discos de vinil, CD e DVD estão presentes na casa de Edi. E tudo em duplicata. "Mesmo assim, não vendo, não dou e não empresto. Mas faço uma cópia se a pessoa quiser", brinca. O acervo da médica também guarda suas raridades. "Tenho um disco da versão demo de 'Carcará', um dos maiores clássicos dela. Foi presente de um paciente quando eu era residente na Santa Casa. Eu emoldurei o disco e pendurei na parede, é uma raridade maravilhosa", orgulha-se.
O começo da paixão de Edi pela música de Bethânia não poderia ter sido mais justificável: o primeiro show que ela viu foi o clássico "Rosa dos Ventos", em 1972, no Teatro Alberto Maranhão. "Foi a melhor época da minha vida, um período muito rico. Desde então não parei de acompanhar tudo que Bethânia fazia", ressalta. Edi afirma que os shows da cantora têm algo a mais, sempre. "A música 'Encanteria', de Paulo César Pinheiro, é baseada em Câmara Cascudo. Bethânia quis saber mais sobre o mestre, e eu enviei pilhas de livros do Cascudo para ela. Os shows de dela são sempre algo mais que música", afirma. O show mais novo, "Bethânia e as Palavras", é um recital intimista, onde a cantora declama e interpreta suas influências. Edi já viu e aprovou. Será apresentado no fim do mês em Porto Alegre e Florianópolis. "Só não irei porque compromissos profissionais urgentes me impedem", lamenta.
Serviço:
Maria Bethânia em 'Amor, Festa, Devoção'. Sexta e sábado, às 21h, no Teatro Riachuelo. Entrada: R$ 200/100 (Balcão Nobre) e R$ 250/125 (Plateia A e B, Frisa, Camarote).
Informações: 4008-3705.
Fonte: Tádzio França
repórter
Tribuna do Norte