Homens leais a Gaddafi empunham armas na cidade de Ban-Waled; ditador continua resistindo
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Agências relatam cenas de uma noite sangrenta na cidade de Misrata
Forças leais ao ditador Muammar Gaddafi atacaram nesta quarta-feira (23) o principal hospital de Misrata, terceira maior cidade do país, informaram as agências de notícias Reuters e France Presse e a rede Al Jazerra, do Qatar. O hospital atende sobretudo rebeldes feridos nos confrontos contra as tropas governistas.
Um porta-voz rebelde disse por telefone à agência France Presse que o hospital havia sido bombardeado, assim como várias casas na cidade.
- A situação está péssima e muito grave aqui em Misrata. Os tanques estão bombardeando tudo.
Esses bombardeios acontecem depois que as forças da coalizão atacaram tropas terrestres do coronel Gaddafi, principalmente em Misrata. Segundo um médico, 17 pessoas, entre elas cinco crianças, morreram nesta terça-feira por ação de franco-atiradores e morteiros lançados pelas forças governamentais.
Saadoun, morador da cidade a 200 km a leste da capital Trípoli, disse à Reuters que atiradores de elite dispararam contra o hospital e que as duas entradas do edifício estavam sob um pesado ataque.
- Ninguém consegue entrar ou sair [do hospital]. Nós perdemos toda a comunicação com as pessoas lá dentro. A última coisa que soubemos é que três pessoas estavam mortas e três, gravemente feridas.
A rede Al Jazeera disse que a noite em Misrata (tarde em Brasília) está sendo sangrenta. Rebeldes contaram 14 mortos e 23 feridos em confronto contra as tropas de Gaddafi.
Com o hospital sob ataque e cercado por tanques, rebeldes pediram o envio de um navio-hospital à cidade, uma vez que eles ainda controlam o porto local, informou a Al Jazeera.
Otan ainda discute papel na crise
Enquanto os confrontos se intensificam na Líbia, embaixadores dos países da Otan (a aliança militar do Ocidente) ainda não chegaram a um acordo sobre o papel da entidade nas operações militares na Líbia.
As reuniões, que não tiveram sucesso até o momento, continuarão nesta quinta-feira, segundo fontes da organização.
Após seis dias consecutivos de encontros, os membros da Otan não avançaram na definição de suas funções na manutenção da zona de exclusão aérea imposta sobre a Líbia em cumprimento da resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.
Os Estados Unidos, que por enquanto dirigem as operações, expressaram em várias ocasiões o desejo de ceder o papel à Otan, mas por enquanto os aliados não conseguiram superar as diferenças para dar esse passo. A Alemanha, por exemplo, vem se opondo aos bombardeios promovidos pelos aliados no país africano.
Nesta terça-feira, os EUA acordaram com Reino Unido e França - os outros dois países que lideraram a ofensiva contra o regime de Muammar Gaddafi - o papel que a Aliança Atlântica deveria desempenhar.
França quer participação dos árabes
Até agora, a França se opôs a ceder o controle total da missão à aliança e argumenta que os países árabes que não pertencem à Otan e apoiaram a ação armada devem participar das decisões. Assim, os franceses sugerem dividir os planos político e militar.
As conversas no seio da Otan também são dificultadas pela postura de Turquia e Alemanha, dois países-membros contrários à intervenção. Ancara deixou claro que quer o cumprimento de uma série de "condições" para que a aliança atue na Líbia. Nesta terça-feira (22), o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, assegurou que seu país não participaria "como uma força de guerra".
No entanto, a Turquia decidiu fazer uma importante participação na operação naval da Otan que garantirá o cumprimento do embargo de armas sobre a Líbia.
A Alemanha, pelo contrário, se negou a participar da missão e retirou do comando aliado duas fragatas e dois navios menores que tinha no Mediterrâneo.
Além disso, ordenou a retirada dos 70 militares alemães que participavam como técnicos especialistas a bordo dos aviões de reconhecimento Awacs da aliança.