O radialista Wilton Andrade dos Santos, 45 anos, proprietário da Milenius FM, viveu momentos de terror, juntamente com a mulher e os três filhos – um com três e o outro com cinco anos de idade -, ao ter o veículo Parati, bege, de placas HZT-6877/SE, incendiado na garagem de sua residência na Rua A, no loteamento Jeová Azevedo, em Itaporanga D'Ajuda. O fato aconteceu por volta de 1 hora de ontem, e o carro só não explodiu no interior da casa, porque a vítima e a mulher conseguiram empurrá-lo para a rua. Para o radialista, o caso estaria relacionado às denúncias que vem fazendo contra a Prefeitura de Itaporanga. Ele revelou que há 15 dias vem sofrendo ameaças por telefone. "Ligam de um número inibido e ficam dizendo que vou amanhecer com a boca cheia de formiga", afirma o radialista.
Wilton Andrade acusa o prefeito de Itaporanga, César Mandarino, de ter envolvimento no caso. "Ele é suspeito sim. Estava fazendo críticas a prefeitura e acontece um caso desses. Ele é o primeiro suspeito. Agora isso vai ser investigado. Se é que não vai ser abafado". O radialista acredita que os criminosos tinham a pretensão de matá-lo. "Se não tivesse acordado e retirado o carro da garagem, ele tinha explodido dentro de casa. Agora, além do prejuízo e do medo, tem o trauma das crianças, que não vão esquecer nunca o que passaram". Dentre as denúncias que teriam desagradado pessoas ligadas ao prefeito do município estaria o fechamento de uma escola no povoado Riachinho.
"Fecharam a escola dizendo que era por falta de alunos, mas a população disse o contrário. Agora os estudantes foram transferidos para outro colégio no povoado Félix e têm de caminhar mais de quatro quilômetros, além de ter que atravessar a rodovia Lourival Baptista", afirmou o radialista, acrescentando que ele também denunciou uma suposta apreensão de drogas feira por agentes federais em uma ambulância do município. "Fiquei sabendo e cobrei uma explicação. Não sei se foi verdade". Wilton Andrade disse que além das ameaças por telefone, vem sendo intimidado por servidores e pessoas que trabalham em cargos comissionados para a prefeitura.
Uma delas é um motorista, que estaria lotado na Secretaria de Saúde, de prenome Fabrício. "Ontem [quinta-feira] estava próximo ao Banese, quando ele passou no carro da Saúde, acompanhado de uma mulher, e disse que eu iria me ferrar", lembrou o radialista, sem esconder o medo de sofrer um novo atentado. Por volta das 9 horas de ontem, ele foi recebido pelo secretário de Segurança Pública, João Eloy Menezes. Na reunião que contou com a participação do secretário adjunto da Comunicação, Francisco Ferreira, do radialista Gilmar Carvalho, do assessor da Prefeitura de Itaporanga, Barroso Guimarães, do presidente do Sindicato dos Radialistas do Estado de Sergipe, Fernando Cabral, e da coordenadora interina das Delegacias da Capital, delegada Nalile Bispo de Castro, que foi designada para apurar o atentado.
Apontado como suspeito de envolvimento no caso pelo radialista, o prefeito de Itaporanga D'Ajuda, César Mandarino, também esteve na SSP acompanhado de um advogado. Segundo o assessor de comunicação, Barroso Guimarães, o prefeito não tem nada a ver como o ocorrido e na sua trajetória política não há nenhum ato de violência. "Ele [o prefeito] manteve contato com a SSP e quer que tudo seja apurado. Querem dar uma conotação política", disse o assessor, acrescentando que a assessoria jurídica do prefeito vai solicitar as gravações dos programas de rádio onde seu nome foi citado como suspeito para que providências sejam adotadas.
Pânico
O atentado contra a residência do radialista aconteceu no início da madrugada de ontem. Existem informações, que ainda estão sendo checadas pela polícia, de que o crime teria sido praticado por três homens, que estavam divididos em duas motos, uma delas Honda Pop. Uma das possibilidades é de que os criminosos utilizaram "coquetéis molotov" - garrafa com combustível e um pavio - para provocar o incêndio. "Acordei atordoado com um barulho como se fosse um tiro e depois veio um estouro, um estrondo no portão", lembrou Wilton Andrade. Na garagem da casa do radialista tem uma câmera de segurança, mas, segundo ele, o equipamento estava desligado.
De acordo com o radialista, ao chegar à garagem, já encontrou o carro em chamas. "Ainda vi um homem correndo, mas quando gritei, ele fez ameaça como se estivesse armado", disse a vítima que sofreu um ferimento na mão. O fogo se alastrou rapidamente pelo carro, que estava com notebooks, câmeras fotográficas e de vídeo, gravadores, e aparelhagem de som. "Todo material de trabalho já estava na Parati, pois ia acompanhar o almoço oferecido pelo governador à imprensa". Wilton ainda tentou em vão, usar o extintor para apagar o fogo. Ele acredita que os desconhecidos se assustaram quando o refletor acendeu e por isso fugiram.
Temendo que o carro viesse a explodir, o radialista conseguiu abrir os cadeados do portão e com a ajuda da mulher, retirou a Parati da garagem. O carro desceu a rampa e derrubou parte do muro lateral da igreja Adventista do Sétimo Dia "Foi horrível. Entrei em desespero. Pensei que íamos morrer. Ainda bem que meu marido teve calma. As chamas estavam muito altas, mas ele abriu o portão", disse Joseane Vieira, ao se recordar dos momentos de pânico, que passou na companhia do radialista e os filhos pequenos. "As crianças estão traumatizadas e estamos com medo que tentem alguma coisa novamente". A informação é de que logo após o incêndio, um morador do loteamento viu dois homens em uma moto Honda Pop com a placa virada saindo da localidade.