Universitário processa professor por ofensas na Federal do Maranhão.
'Gosto muito do Brasil, mas meu coração está na Nigéria', afirma jovem.
Ele está há três meses no Brasil para estudar e, em entrevista ao G1, afirma que não pretende retornar à África mesmo após a polêmica.
"Acho que isso pode não dar em nada na faculdade, mas espero que a Justiça faça alguma coisa. Meu advogado abriu um processo criminal contra o professor. Mesmo com tudo isso, não vou voltar para a Nigéria agora, tenho que terminar o curso. Só volto para lá depois, para ajudar meu país", afirmou Ayúba.
Natural de Bauchi, a nordeste da capital Abuja, o jovem está em São Luís estudando engenharia química, curso que tem duração de cinco anos na UFMA. Ele veio ao Brasil por meio do Programa de Estudante-Convênio de Graduação (PEC-G), do Ministério da Educação, que oferece oportunidades de formação superior no Brasil para alunos de países em desenvolvimento.
O caso do estudante foi divulgado na noite de segunda-feira (4) pelo Jornal da Globo.
“Nunca passei por uma humilhação como essa na minha vida, me senti muito mal. Essa pessoa não sabe o que faz, e é só ele que faz isso. As outras pessoas aqui gostam de mim, me querem muito bem", acrescenta Ayúba.
O estudante diz que sofre há algum tempo de preconceito e racismo por parte do professor José Cloves Verde Saraiva, que aplica as aulas de cálculo vetorial no curso de
engenharia química na UFMA. Segundo Ayúba, o professor vem “humilhando-o na frente de outros alunos”.
O aluno afirma ter escutado frases como “quantas onças você caçou no seu país?” e “você veio para cá em navio negreiro?”. Segundo a namorada de Ayúba, Marinilde de Oliveira, o nigeriano passou a sofrer de depressão com as provocações e nunca revidou.
O G1 pediu à UFMA os contatos do professor, mas a universidade informou que ele não usa telefone celular e que não esteve na universidade nesta terça-feira (5). O G1 tentou contato por email com ele, mas ainda não obteve retorno.
Em nota divulgada à imprensa local na segunda-feira, o professor pediu desculpas e disse que o aluno pode ter interpretado mal o que falou (leia íntegra da nota abaixo).
Coração na África
Ayúba diz que, se o professor Saraiva continuar dando aulas, ele pode pensar em pedir transferência para outra universidade brasileira. O que não passa por sua cabeça é desistir.
"Gosto muito do Brasil e o que consegui é uma oportunidade. Mas meu coração está na Nigéria, é meu povo, é meu país, mas vou ficar aqui até terminar o curso", afirma ele.
Segundo a namorada, Ayúba não contou aos parentes sobre o problema no Brasil. “Ele é de família bem-sucedida na Nigéria. A mãe faz faculdade de jornalismo e é psicóloga. Ele tem outros três irmãos que moram com a mãe em Bauchi e eles ainda não sabem o que aconteceu aqui", afirma Marinilde.
Abaixo-assinado
Os colegas criaram na internet um espaço para “abaixo-assinado contra o crime de racismo na UFMA. Eles dizem que, por mais de uma vez, o professor afirmou que o jovem deveria “voltar à África” e “clarear a sua cor”.
Após as denúncias, a reitoria disse que “solicitou à Pró-reitoria de Recursos Humanos a instalação imediata de um processo administrativo, assim como comunicou sobre o caso ao Ministério Público, solicitando que o mesmo seja apurado”. A UFMA não afastou o professor das aulas, disse a assessoria de imprensa da universidade.
O advogado do nigeriano, Nonnato Massom, afirma que aguarda providências da UFMA e defende o afastamento imediato do professor. Ele pediu Ministério Público Federal que determinasse à Polícia Federal a abertura de inquérito sobre o caso.
Professor pede 'desculpas'
O professor divulgou uma nota à imprensa do Maranhão em que pede desculpas pelo fato. Leia a íntegra da nota, confirmada pela UFMA.
"RETRATAÇÃO PÚBLICA
José Cloves Verde Saraiva, professor associado III da UFMA, vem mui respeitosamente pedir desculpas públicas à interpretação, certamente dúbia, do aluno nigeriano NUHU AYUBA, que durante as aulas de Cálculo Vetorial, no curso de Engenharia Química da UFMA, sentiu-se ofendido, e vem esclarecer este engano nos três itens seguintes:
1. Ao perguntar o seu nome não houve qualquer sentido jocoso, visto que sua pronúncia no seu idioma induz isto no nosso e que foi esclarecida por ele mesmo como o equivalente deste a NOÉ JOSUÉ.
2. Em conversa particular, referir-me ao Prêmio Nobel Nigeriano W.Soyinka sobre a frase “UM TIGRE NÃO DEFINE TIGRITUDE. UM TIGRE SALTA!” Quando me referi aos LEÕES AFRICANOS, que nas dificuldades de todo estrangeiro para o entendimento subjetivo de acusações preconceituais, esta não induz isso, pois sou também de cor parda, assim como os meus familiares, e durante toda minha existência jamais proferiria tal insulto, principalmente para aluno.
3. Já referir-me em classe que “ser universitário é muita responsabilidade” e é costume dos alunos novatos (calouros) usarem as dependências da universidade para outros fins fora do contexto educacional. Reclamei a você e aos outros colegas que não compareciam às aulas, nem fizeram os exercícios e, principalmente você, não compareceu ao PRÉ-TESTE e nem fez a sua 1ª Avaliação, além disso, não fez o PRÉ-TESTE da 2ª Avaliação, nem as suas notas de aula no caderno desta disciplina foram escritas e apresentadas até hoje. É lamentável! Faço o meu dever de professor cobrando o bom entendimento da disciplina, tendo formado excelentes alunos durante todo esse tempo, veja que a maioria dos seus colegas de classe cumpriram seus deveres e a turma passada não teve problemas deste tipo. Embora sabendo que você tem suas dificuldades naturais, como qualquer estrangeiro, deveria pelo menos se explicar, evitando interpretações errôneas sobre o seu atual comportamento como estudante da UFMA.
Firmo-me nestes termos públicos e receptivo a quaisquer outros esclarecimentos."
Fonte: G1
'Gosto muito do Brasil, mas meu coração está na Nigéria', afirma jovem.
Ayúba pretende ficar cinco anos no Brasil para terminar o curso no Maranhão
(Foto: Reprodução/TV Globo)
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O estudante nigeriano Nuhu Ayúba, de 21 anos, diz que "nunca sofreu tanta humilhação na vida" como os momentos em que diz ter sido alvo de preconceito e racismo em sala de aula na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Ele está há três meses no Brasil para estudar e, em entrevista ao G1, afirma que não pretende retornar à África mesmo após a polêmica.
"Acho que isso pode não dar em nada na faculdade, mas espero que a Justiça faça alguma coisa. Meu advogado abriu um processo criminal contra o professor. Mesmo com tudo isso, não vou voltar para a Nigéria agora, tenho que terminar o curso. Só volto para lá depois, para ajudar meu país", afirmou Ayúba.
Natural de Bauchi, a nordeste da capital Abuja, o jovem está em São Luís estudando engenharia química, curso que tem duração de cinco anos na UFMA. Ele veio ao Brasil por meio do Programa de Estudante-Convênio de Graduação (PEC-G), do Ministério da Educação, que oferece oportunidades de formação superior no Brasil para alunos de países em desenvolvimento.
O caso do estudante foi divulgado na noite de segunda-feira (4) pelo Jornal da Globo.
“Nunca passei por uma humilhação como essa na minha vida, me senti muito mal. Essa pessoa não sabe o que faz, e é só ele que faz isso. As outras pessoas aqui gostam de mim, me querem muito bem", acrescenta Ayúba.
O estudante diz que sofre há algum tempo de preconceito e racismo por parte do professor José Cloves Verde Saraiva, que aplica as aulas de cálculo vetorial no curso de
engenharia química na UFMA. Segundo Ayúba, o professor vem “humilhando-o na frente de outros alunos”.
O aluno afirma ter escutado frases como “quantas onças você caçou no seu país?” e “você veio para cá em navio negreiro?”. Segundo a namorada de Ayúba, Marinilde de Oliveira, o nigeriano passou a sofrer de depressão com as provocações e nunca revidou.
O G1 pediu à UFMA os contatos do professor, mas a universidade informou que ele não usa telefone celular e que não esteve na universidade nesta terça-feira (5). O G1 tentou contato por email com ele, mas ainda não obteve retorno.
Em nota divulgada à imprensa local na segunda-feira, o professor pediu desculpas e disse que o aluno pode ter interpretado mal o que falou (leia íntegra da nota abaixo).
Coração na África
Ayúba diz que, se o professor Saraiva continuar dando aulas, ele pode pensar em pedir transferência para outra universidade brasileira. O que não passa por sua cabeça é desistir.
"Gosto muito do Brasil e o que consegui é uma oportunidade. Mas meu coração está na Nigéria, é meu povo, é meu país, mas vou ficar aqui até terminar o curso", afirma ele.
Segundo a namorada, Ayúba não contou aos parentes sobre o problema no Brasil. “Ele é de família bem-sucedida na Nigéria. A mãe faz faculdade de jornalismo e é psicóloga. Ele tem outros três irmãos que moram com a mãe em Bauchi e eles ainda não sabem o que aconteceu aqui", afirma Marinilde.
Abaixo-assinado
Os colegas criaram na internet um espaço para “abaixo-assinado contra o crime de racismo na UFMA. Eles dizem que, por mais de uma vez, o professor afirmou que o jovem deveria “voltar à África” e “clarear a sua cor”.
Após as denúncias, a reitoria disse que “solicitou à Pró-reitoria de Recursos Humanos a instalação imediata de um processo administrativo, assim como comunicou sobre o caso ao Ministério Público, solicitando que o mesmo seja apurado”. A UFMA não afastou o professor das aulas, disse a assessoria de imprensa da universidade.
O advogado do nigeriano, Nonnato Massom, afirma que aguarda providências da UFMA e defende o afastamento imediato do professor. Ele pediu Ministério Público Federal que determinasse à Polícia Federal a abertura de inquérito sobre o caso.
Professor pede 'desculpas'
O professor divulgou uma nota à imprensa do Maranhão em que pede desculpas pelo fato. Leia a íntegra da nota, confirmada pela UFMA.
"RETRATAÇÃO PÚBLICA
José Cloves Verde Saraiva, professor associado III da UFMA, vem mui respeitosamente pedir desculpas públicas à interpretação, certamente dúbia, do aluno nigeriano NUHU AYUBA, que durante as aulas de Cálculo Vetorial, no curso de Engenharia Química da UFMA, sentiu-se ofendido, e vem esclarecer este engano nos três itens seguintes:
1. Ao perguntar o seu nome não houve qualquer sentido jocoso, visto que sua pronúncia no seu idioma induz isto no nosso e que foi esclarecida por ele mesmo como o equivalente deste a NOÉ JOSUÉ.
2. Em conversa particular, referir-me ao Prêmio Nobel Nigeriano W.Soyinka sobre a frase “UM TIGRE NÃO DEFINE TIGRITUDE. UM TIGRE SALTA!” Quando me referi aos LEÕES AFRICANOS, que nas dificuldades de todo estrangeiro para o entendimento subjetivo de acusações preconceituais, esta não induz isso, pois sou também de cor parda, assim como os meus familiares, e durante toda minha existência jamais proferiria tal insulto, principalmente para aluno.
3. Já referir-me em classe que “ser universitário é muita responsabilidade” e é costume dos alunos novatos (calouros) usarem as dependências da universidade para outros fins fora do contexto educacional. Reclamei a você e aos outros colegas que não compareciam às aulas, nem fizeram os exercícios e, principalmente você, não compareceu ao PRÉ-TESTE e nem fez a sua 1ª Avaliação, além disso, não fez o PRÉ-TESTE da 2ª Avaliação, nem as suas notas de aula no caderno desta disciplina foram escritas e apresentadas até hoje. É lamentável! Faço o meu dever de professor cobrando o bom entendimento da disciplina, tendo formado excelentes alunos durante todo esse tempo, veja que a maioria dos seus colegas de classe cumpriram seus deveres e a turma passada não teve problemas deste tipo. Embora sabendo que você tem suas dificuldades naturais, como qualquer estrangeiro, deveria pelo menos se explicar, evitando interpretações errôneas sobre o seu atual comportamento como estudante da UFMA.
Firmo-me nestes termos públicos e receptivo a quaisquer outros esclarecimentos."
Fonte: G1