Como numa pintura antiga a que a janela serve de moldura, atrás de uma fina cortina pode ver-se o corpo generoso de uma mulher jovem dançando de forma sensual.
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Uma janela, isso mesmo, uma simples janelinha, daquelas rectangulares, que toda a gente tem na sua casa, foi a maior atracção do carnaval da cidade brasileira de Ouro Preto, património da Humanidade devido às igrejas e outros monumentos seculares.
Até esta quarta-feira, quem passava pela Rua Direita, tradicional ponto de desfiles carnavalescos daquela cidade do interior do estado de Minas Gerais, não conseguia fugir de dar uma olhadinha para a janela que fica em frente ao número 145 e já apelidada de 'Janela Erótica'.
O nome não é por acaso: é que, como numa pintura antiga a que a janela serve de moldura, atrás de uma fina cortina pode ver-se o corpo generoso de uma mulher jovem dançando de forma sensual.
A dançarina não diz nada, só dança, rodopia, abaixa, levanta, enfim, faz movimentos que realcem para quem está na rua a exuberância das suas formas, o que torna tudo ainda mais misterioso e excitante.
Tudo isso sem que a cortina permita que vejam o seu rosto, numa actuação que instiga a fantasia dos homens e mulheres que ficam em frente à janela de olhos esbugalhados. Ou dos homens que, ao lado das esposas, fingem não olhar mas não resistem a uma espiadela furtiva, que elas também dão, nem que seja para criticar.
A 'Janela Erótica' foi criada há 20 anos, quando os costumes eram outros, provocou uma enorme polémica, ainda mais numa cidade de tanta tradição religiosa, e acabou por ser proibida.
Este ano, com novos conceitos e mais liberdade, e até com o apoio da câmara municipal, Júlio de Paula, de 44 anos, um dos seus idealizadores, conseguiu reeditar a iniciativa, que se transformou na maior e mais polémica atracção do carnaval da tradicional cidade.
Muita gente reclamou, os mais conservadores ficaram chocados, mas uns e outros, de forma ostensiva ou disfarçada, dão uma olhadinha para a janela quando passam.
Protegida pelo anonimato do fino tecido, Cíntia Gonçalves, de 24 anos, a jovem por trás da cortina, realiza o sonho de dançar atrás da janela de que ouvia falar desde criança mas que não conhecia, e afirma sentir-se honrada ao atrair tantos olhares e saber que as pessoas vão lá para vê-la dançar.
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