Eugênio em momentos de lazer durante passagem pela Inglaterra
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Das pequenas ruas e vielas do bairro da Bandeira Branca, em Jardim do Seridó para os concorridos corredores da famosa "Michigan State University", nos Estados Unidos. Esta é a trajetória do engenheiro agrônomo e neurobiólogo Eugênio Oliveira, 31 anos de idade, quase 17 deles vividos no município seridoense, e que já fez de tudo um pouco, desde carregar feiras no mercado, vender dindins nos jogos do extinto Caveirão, até "passar jogo de bicho". Em conversa com o Blog, na noite deste sábado (04), Eugênio lembrou com emoção que em 1995 decidiu dar um novo rumo a sua vida. Depois de ter feito sua alfabetização no Projeto Casulo, o primário na Escola Rural e o ginasial no CEFE, Eugênio de Teca, como era conhecido à época, começou o primeiro ano de técnico em agropecuária, na Escola Agrícola de Jundiaí, em Macaíba (RN).
"Se não fosse Dona Quequé de Joaquim Patrício eu não teria ido para a Escola de Jundiaí e talvez não tivesse vivenciado metade do que tenho até hoje. Ela teve uma importância grande na minha vida. Foi dela a idéia de tentar o curso de técnico em agropecuária em Macaíba. Ela também foi quem convenceu minha mãe a aceitar a idéia de eu "atrasar" um ano, caso passasse no exame de seleção. Ela que me mostrou o caminho da educação. Meus irmãos também me ajudaram bastante, principalmente me deixando trabalhar menos e estudando mais", disse Eugênio em tom de agradecimento. Em 1998 se mudou para Minas Gerais, após ter passado no curso de agronomia na Universidade Federal de Viçosa, onde concluiu o seu mestrado em Entomologia. Já seu doutorado foi concluído na University of Cologne, em Cologne na Alemanha. Eugênio não sabe informar, mas acredita ser o único potiguar a freqüentar a Michigan State University, onde se dedica a pesquisas na área de neurobiologia.
Marcos Dantas - Como você chegou a Michigan State University e como tem sido seus dias aí?
Eugênio Oliveira - Vim para Michigan após uma proposta que recebi durante um congresso da sociedade americana de neurociências que participei em outubro de 2009, na cidade de Chicago aqui nos EUA. Já pressentia que precisava aperfeiçoar o que vinha desenvolvendo na Alemanha, e mediante a perspectiva de crescimento pessoal e profissional que vi na proposta, resolvi adiar a volta ao meu querido Brasil, e principalmente o Nordeste, para um futuro próximo. Quero contribuir com o desenvolvimento de nossa ciência, que diga de passagem tem melhorado muito nos últimos anos. Meus dias aqui têm sido ainda de adaptação e de muito trabalho. Apesar da experiência na Alemanha (4 anos para o meu doutoramento) a vida aqui nos EUA é diferente da vida lá e do Brasil.
E como é sua atividade de pesquisa na Universidade?
Trabalho com a caracterização fisiológica de canais de sódio (moléculas protéicas) presentes em células (normalmente neurônios) animais. É um tema um pouco complexo, mas esta relacionada tanto com a área de desenvolvimento de moléculas inseticidas (capazes de combater insetos pragas) como no desenvolvimento de produtos farmacêuticos de atuação neuronal. É prazeroso porque posso entender porque muitas vezes é difícil matar uma barata ou porque nem todo analgésico que ingerimos funciona da mesma forma em todas as pessoas.
Em que essa pesquisa é útil no nosso dia a dia?
Temos que compartilhar nosso ambiente com outros organismos. Dentre estes, estão os insetos. Seja barata, mosquito, ou moscas todos eles (assim como nos humanos) possuem células neurais (neurônios) que expressam estas proteínas (canais de sódio) e elas regulam as suas mais diversas ações (vôo, deslocamento, controle da hora e de que tipo de comida). Para combatê-los temos que ter moléculas capazes de atuar especificamente nestes organismos. Por isto a incessante procura de moléculas que sejam mais eficientes e menos danosas ao nosso meio ambiente. Ai o Brasil é pais do século XXI. Temos uma infinidade de potenciais moléculas por descobrir em nossa flora e fauna.
De que forma você pensa em fazer aqui no Brasil e na nossa região, o resultado de sua pesquisa?
Meu amigo, penso grande. Natal recebe os olhares dos mais estudiosos mundiais da área de neurobiologia. Graças à ação do Prof. Miguel Nicolelis e seus colaboradores, esta sendo fundado o instituto internacional de neurociências de Natal. A idéia do instituto é fazer pesquisa de ponta e transformar a realidade de estudantes da rede publica das áreas mais pobres do entorno de Natal. Por isto, penso em fazer as duas coisas. Tanto estabelecer esta linha no Brasil, como mudar e incentivar nossos jovens a pensarem grande, não temer a concorrência e perder o medo de desafios.
Do Blog de Marcos Dantas
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