quarta-feira, 2 de março de 2011

Travestis são vítimas de agressão no centro de Teresina

Na opinião da delegada Kátia Esteves, as denúncias por homofobia precisam ser analisadas caso a caso
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Dor, preconceito, agressão e homofobia são apenas algumas das humilhações que fazem parte da rotina de alguns homossexuais. E esse fardo é ainda maior de acordo com a profissão desempenhada, como no caso das dezenas de travestis que oferecem o corpo em troca de uma esmola qualquer.


As denúncias de agressão física são as mais comuns, segundo a delegada Kátia Esteves, da Delegacia de Defesa e Proteção dos Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias. “Em segundo lugar, recebemos muitos registros de injúria devido a opção sexual e a cor”, disse a delegada.


Na opinião de Kátia Esteves, as denúncias por homofobia precisam ser analisadas caso a caso, pois a verdade se revela nas entrelinhas. “A princípio, podemos imaginar que, se um homem sai com um travesti, ele não tem preconceito. Por outro lado, ele pode estar interessado apenas em agredir o travesti”, ressalta Kátia.

Segundo a militante do Matizes, Marinalva Santana, outro conflito recorrente entre travestis e clientes acontece na hora de pagar pelo programa, pois os homens se negam a arcar com o valor cobrado. “Como uma forma de receber o pagamento, os travestis acabam pegando bolsa ou celular do cliente”, afirma Marinalva.

Recentemente, quatro homossexuais foram presos após um episódio semelhante. Mas, segundo o movimento LGBTT, a ação foi arbitrária e cheia de irregularidades. “Um travesti ficou preso 16 dias sem que estivesse sequer no local quando houve o roubo. Essa mesma pessoa já foi vítima de agressão anteriormente”, conta Marinalva.

No centro de Teresina, os principais lugares de prostituição são a Rua Goiás, a 24 de janeiro e a avenida Maranhão - próximo à Chesf. A maioria desses travestis passou por uma longa história de sofrimento e desprezo por parte das instituições sociais, como a própria família.

Expulsos de casa, da escola e sem ter qualquer amparo, a prostituição e a criminalidade terminam sendo um caminho quase previsível. A rua se apresenta como o único espaço que acolhe esses travestis.

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A quebra do silêncio


Foram dois anos suportando humilhações e exclusão até o momento em que I.C.R.C foi demitida. Ao mesmo tempo em que a iniciativa, tomada pela supervisora da profissional de vendas, representou o auge do preconceito, também foi um grito de libertação.

Na manhã desta terça, I.R, compareceu à delegacia especializada com um único objetivo: denunciar a pessoa que tanto lhe maltratou. “Ela debochava de mim, ria com brincadeiras que me atingiam, além de me prejudicar profissionalmente e financeiramente. Por último, conseguiu minha demissão”, conta a vendedora.

Tudo isso mexeu com seu psicológico. A tentativa de segurar o choro foi inútil quando I.R lembrou de um episódio específico. “Um dia ela disse que na empresa tinha vaga para negro, branco e até amarelo, mas para gay não tinha, não. E ela conseguiu mostrar que, realmente, não tem espaço para mim ali”, lamenta a vendedora.

A atitude tomada por I.R. demonstra o aumento no número de denúncias por homofobia, demonstrando maior conscientização. Contudo, é impossível negar que a sexualidade, e principalmente uma orientação sexual diferenciada, ainda é um tema difícil para a sociedade. Assim, boa parte desses crimes permanecem no anonimato.

Para a delegada Kátia Esteves, o ato de denunciar precisa ser pensando de uma forma coletiva, pois representa a realidade pela qual passa milhares de homossexuais por todo o Brasil. “Se a denúncia não partir daquelas que são prejudicados, o agressor vai se sentir fortalecido, achando que nada acontece”, defende Kátia.

E é pensando dessa forma que I.R decidiu agir. “Não quero que aconteça com outras pessoas. Antes de fazer qualquer agressão, nem que seja apenas verbal, ela vai pensar duas vezes”, conclui a vendedora.

Fonte: Jornal Meio Norte









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